segunda-feira, 21 de março de 2011

Médicos da alma

Minha mãe sempre me disse, em minhas crises de auto confiança, quando eu dizia que o que eu gostava de fazer não era valorizado de fato pela sociedade, que os artistas são os curadores do espírito. Hoje eu entendo muito bem o que ela queria dizer. O artista não vive sem seu público e o público não vive sem a nossa arte. Somos nós que os despistamos por algum tempo da cruel realidade, tiramos sorrisos e lágrimas para que depois eles possam voltar ao mundo real, o qual jamais o alimentará por completo. 
Somos como uma válvula de escape e, tanto a sensação que causamos quanto a que sentimos quando proporcionamos isso é uma necessidade mútua. 
Mas como todo super herói que tem uma vida "normal" e "civil" nas horas vagas, eu senti a mesma necessidade. Busquei e busco ter o que todos tem: diploma, carreira, dinheiro, muito embora eu ainda continue agindo mais com o coração, como artista. Aceitei e amo minha arte, meu sangue, minha paixão, o que nasce dentro de nós não pode ser negado... a essência é pura e sempre mora em algum lugar da alma. Nasci para amar, não tenho mais dúvidas, nasci para dançar, não nego mais, nasci para curar, me orgulho disso!

terça-feira, 15 de março de 2011

Dançar só

Apesar da possibilidade de dançar em grupo, a dança do ventre é originalmente uma dança para se dançar sozinha. A bailarina é, naquele momento, o elemento que produz encanto, e cabe a ela trazer o público em sua viagem emocional. Como uma emoção jamais pode ser replicada ou repetida é a sensação que cada uma expressa e exterioriza individualmente que deve ser transmitida. Desta forma, aquela entidade que interpreta o que ouve adquire também uma personalidade unica e atrai a atenção do público para si. Este é um precioso momento de solidão.
Para mim, como bailarina, o fato de dançar só é uma dádiva. Ao estar ali sozinha, convergindo a atenção e os olhares, uma sensação de poder e plenitude me invade a alma, é como desabafar com as paredes ou confiar à alguém um segredo, é como contar uma fábula, como viajar para um lugar distante, é dividir algo de bom, é uma doação, uma exposição, é como mágica, pois criamos instantaneamente uma seqüência de movimentos que traduz uma emoção, um som. E tudo que imprime transformação me lembra mágica. 
Vejo ainda a dança do ventre como a metáfora da vida de uma mulher, em que é preciso movimentar-se conforme um ritmo externo; as vezes com força, as vezes com delicadeza, sutileza e elegância, as vezes com graça, as vezes com seriedade, mistério, as vezes com pureza outras com malícia, mas sempre doando o que há de melhor em si, com muito amor e buscando sempre o aperfeiçoamento como ser humano, bailarina e mulher.