quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Naquele dia eu soltei meus cabelos como há muito tempo não fazia, senti nele o vento suave e fresco da noite, andei apressada olhando para o alto podendo contemplar a lua e algumas estrelas. Estava leve e feliz, caminhar era uma dança. Desci a colina correndo para saborear a agitação do corpo no auge de uma extenuante movimentação; aquela energia que flui, que faz suar e que faz o pensamento transcender. Orgulhei-me de minha escolha e estava pronta para a responsabilidade que trás a liberdade. Agora eu corro em direção a mim mesma na tentativa de retomar aquela que um dia mergulhou sem medo nas águas profundas de seus sonhos. Ingênua e utópica, dançando todos os dias a música da vida. Muitos deixaram de vir ao mundo para que eu aqui estivesse e porque não aproveitar tudo que aqui há. Quem pode sentir essa brisa da noite quente? Quem pode sorrir e beijar? Quem pode agradecer e dormir? Quem pode acordar e sonhar ao mesmo tempo? Quem pode estar onde deseja? Quem pode respirar? Quem pode tocar e sentir o frio, o quente, o áspero e o liso? Quem pode cheirar o ar e as pessoas? Quem pode saborear o doce e o amargo? Quem pode ver o sol ou somente sentir o seu calor? Quem pode ver dia após dia uma planta crescer e dar a você a lição do silêncio e da busca pela luz? 
Quem pode dançar sua própria dança é feliz! Se a dúvida existe, você não existe, pois a única certeza que podemos ter somos nós mesmos e o que amamos. 
Eu decidi dançar minha vida! Independente da música! E sim, eu acredito no retorno, pois é um dos poucos que eu posso de fato sentir. Minha grande dignidade e meu maior alimento tem sido viver de acordo com o que acredito... Senão, quem serei eu?
A lua ainda está lá. Ela não se foi e será minha cúmplice e companheira. Ela me lembra que estou nesse mundo e preciso cumprir minha maior missão: ser feliz.
Naquele dia eu perdi muitos medos e assumi muitas responsabilidades, escolhi aceitar meu destino... seja ele qual for. Eu escolhi algumas cores para minha gravura e a música para minha dança; eu escolhi o sabor de meu alimento e o tecido da minha roupa; escolhi minha arma para lutar e a língua para me expressar; escolhi a minha cura e também minhas dores; escolhi meu caminho e os companheiros com quem quero trilhá-lo. Essa é a bagagem e essa é a viagem; aproveitemos ao máximo antes que ela acabe. Dance! Porque a dança não é só a linguagem do corpo, ela é a liberdade da alma, a cor do ar, a concretização do som e a meditação da vida!
A maior e mais longa jornada é para dentro de nós mesmas! Boa viagem!


domingo, 6 de janeiro de 2013

Entendi o poder das aves


Durante os primeiros minutos eu só conseguia me sentir grata pelo privilégio de ter aquela visão. Logo depois de deixar o chão uma curva acentuada para a direita me fez sentir uma leve vertigem como se estivesse em uma montanha russa. Estava hipnotizada. De repente a cidade estava diante de meus olhos como uma maquete e era possível contemplar todas as belezas juntas. Elas iam aparecendo aos poucos formando a majestosa composição de pedras e mar. Cada vez ficavam menores e mais distantes. Aqueles momentos eram da mais completa entrega, nada pode ser feito, nada pode ser salvo e, lá em cima, é possível sentir ao mesmo tempo a grandiosidade e a insignificância do ser humano. Não contive as lágrimas.
Quando parecia alto demais para uma criação humana senti a inércia de meu corpo contra o assento mais uma vez e pude ver que agora atravessava as nuvens. Elas pareciam um tapete por onde eu deslizava como em um sonho. Fofinhas, macias e, no entanto, intocáveis praticamente inexistentes. Eu não tinha mais o solo nem sob minhas vistas e perder o chão é de fato a melhor sensação que mesmo em terra deveríamos provar mais vezes permitindo-se voar mais alto e sem medo. Na verdade esse sentimento de impotência e pertencimento deveria estar sempre presente em nossas vidas para que os passos fossem dados com mais fé e menos insegurança, como caminhando nas nuvens.
Eu já não podia entender o que via, perdi a noção de direção, do que estava em cima e do que estava embaixo tudo eram nuvens de diferentes tamanhos, cores e texturas,  e os leves tremores repentinos me faziam esquecer que o solo não estava sob mim. O que quer que acontecesse naquele momento seria tão mágico quanto estar ali e, de fato, depois de ver o que é possível ver lá de cima qualquer um perde o medo de morrer.