Durante os primeiros minutos eu
só conseguia me sentir grata pelo privilégio de ter aquela visão. Logo depois
de deixar o chão uma curva acentuada para a direita me fez sentir uma leve
vertigem como se estivesse em uma montanha russa. Estava hipnotizada. De
repente a cidade estava diante de meus olhos como uma maquete e era possível
contemplar todas as belezas juntas. Elas iam aparecendo aos poucos formando a
majestosa composição de pedras e mar. Cada vez ficavam menores e mais
distantes. Aqueles momentos eram da mais completa entrega, nada pode ser feito,
nada pode ser salvo e, lá em cima, é possível sentir ao mesmo tempo a
grandiosidade e a insignificância do ser humano. Não contive as lágrimas.
Quando parecia alto demais para
uma criação humana senti a inércia de meu corpo contra o assento mais uma vez e
pude ver que agora atravessava as nuvens. Elas pareciam um tapete por onde eu
deslizava como em um sonho. Fofinhas, macias e, no entanto, intocáveis
praticamente inexistentes. Eu não tinha mais o solo nem sob minhas vistas e
perder o chão é de fato a melhor sensação que mesmo em terra deveríamos provar
mais vezes permitindo-se voar mais alto e sem medo. Na verdade esse sentimento
de impotência e pertencimento deveria estar sempre presente em nossas vidas para
que os passos fossem dados com mais fé e menos insegurança, como caminhando nas
nuvens.
Eu já não podia entender o que
via, perdi a noção de direção, do que estava em cima e do que estava embaixo
tudo eram nuvens de diferentes tamanhos, cores e texturas, e os leves tremores repentinos me faziam
esquecer que o solo não estava sob mim. O que quer que acontecesse naquele momento seria tão mágico quanto estar ali e, de fato, depois de ver o que é possível ver lá de cima qualquer um perde o medo de morrer.
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